POLÍTICA
María Corina confirma contatos com governo Trump sobre regime de Maduro e rejeita mediação de Lula
Domingo passado, em meio ao aumento da presença militar dos Estados Unidos no Caribe e, em consequência, da pressão do governo de Donald Trump sobre a ditadura venezuelana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu primeiro encontro com o chefe de Estado americano para defender uma saída “política e diplomática” para a crise no país vizinho, e propor a participação do Brasil como facilitador numa eventual negociação. A proposta de Lula a Trump foi muito mal recebida pela líder opositora venezuelana María Corina Machado, que, em entrevista ao GLOBO, afirmou que “algo assim nunca seria aceito pelos cidadãos venezuelanos”.
Escondida em algum lugar dentro do território venezuelano, María Corina voltou a defender as ações militares dos EUA na região, e, perguntada sobre recente reportagem da agência Reuters que afirma que membros de sua equipe e ela própria — através de chamadas de vídeo — participaram de várias reuniões com membros do governo Trump para ajudar a elaborar uma narrativa que sustente o assédio militar ao governo de seu país, confirmou contatos com funcionários americanos em Washington, mas evitou dar detalhes de sua relação com a Casa Branca.
A decisão de Lula de falar sobre a crise na Venezuela com Trump incomodou a líder opositora. Ao explicar o que opinava sobre a proposta feita pelo presidente brasileiro — à qual o chefe de Estado americano ainda não respondeu — María Corina não escondeu sua irritação:
— O presidente Lula, como todos os governos do mundo, sabe que Maduro foi derrotado [nas urnas]. A pergunta [para Lula ] é: os venezuelanos somos cidadãos de segunda classe, não temos direito a escolher, e a que nossa vontade seja respeitada?
A líder opositora — que ganhou o Prêmio Nobel da Paz e o dedicou aos venezuelanos e a Trump — assegurou que qualquer negociação com Nicolás Maduro deve ter como ponto de partida a vitória que a oposição diz ter obtido no pleito pela Presidência de 28 de julho de 2024.
— Todo o resto é inaceitável, e definitivamente inaceitável se vem de um mandatário que diz ser democrático [em referência a Lula] — frisou María Corina, acusando os governos do Brasil e da Colômbia de terem dado tempo a Maduro para “realizar uma das piores escaladas de violência no país”, nos últimos 15 meses. — Maduro deve entender que, pelo seu próprio bem, sua melhor opção é facilitar uma transição pacífica. O ponto de partida é a saída Maduro.
Agenda secreta
Sua relação com o presidente americano é central para a estratégia da ala mais dura da oposição venezuelana, que, como Trump e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, defende abertamente uma mudança de regime imediata no país.
Ao ser perguntada sobre sua interação com Washington, María Corina não negou contatos com autoridades americanas, mas disse que uma regra fundamental de sua equipe é “nunca vazar o conteúdo das conversas e com quem elas acontecem, a menos que o outro lado peça que isso seja informado”. Encontros com o ex-conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz, mencionados na reportagem da Reuters, foram confirmados por María Corina.
— Evidentemente ocorrem reuniões, e com Waltz foi pública. Apareceu em todas as redes sociais. Aconteceu quando Edmundo González Urrutia [ex-candidato presidencial que, segundo dados da oposição apoiados, entre outros, pelo Centro Carter, venceu a disputa presidencial de 2024] esteve em Washington em janeiro [deste ano] — comentou María Corina.
Perguntada sobre um trabalho em conjunto entre suas equipes e o governo Trump para construir uma narrativa contra Maduro, a líder opositora foi taxativa:
— Acreditar que as agências dos EUA devem recorrer a fontes externas é, como mínimo, subestimá-las. Mas não vou elaborar. Nós não comentamos quando temos reuniões com outros governos. Essa é a maneira de manter a confiança. Os membros de nossas equipes não declaram sobre seus encontros. Em nossas equipes não há vazamentos.
Sobre o que não existe nenhuma dúvida é o respaldo contundente de María Corina à pressão militar americana sobre seu país. Nesse contexto, a proposta de Lula cai mal porque desvia a ala dura da oposição venezuelana de uma estratégia de pressão máxima, que tem como objetivo tirar o chavismo do poder. Dentro da Venezuela, lideranças opositoras como o ex-candidato presidente Henrique Capriles, entre outros, dialogam com o Palácio de Miraflores e com o próprio Maduro.
Isso, na visão de María Corina e seu grupo, é visto como traição. A oposição venezuelana está dividida entre os que apoiam o assédio militar americano e os que rejeitam publicamente qualquer tipo de ingerência americana no país.
— Nós ganhamos a eleição, e não apenas a última. Nos atacam, nos reprimem, nos prendem. Tivemos 17 tentativas de diálogo, e Maduro sempre violou seus compromissos. Quem começou a guerra foi Maduro — diz María Corina, para quem o ditador venezuelano é o chefe de “uma estrutura narcoterrorista”.
— Questionam a invasão pelos EUA, mas ninguém fala dos russos, iranianos, chineses e cubanos que estão atuando dentro de nosso país. A invasão já existe, e pedimos o apoio do presidente Trump para acabar com essa guerra iniciada por Maduro — enfatizou a líder opositora.
ACENO A INVESTIDORES
Para a ala mais radical da oposição venezuelana, é tarde demais para falar em diálogo. O posicionamento de Lula é um obstáculo para impulsionar uma ofensiva que já dura quase dois meses, implicou a explosão de 11 embarcações no Caribe e no Pacífico, e poderia levar, segundo analistas venezuelanos, a um ataque em território do país ou da Colômbia. Nas últimas semanas, o presidente colombiano, Gustavo Petro, também se tornou alvo da Casa Branca.
Em paralelo ao movimento militar americano, María Corina e seus colaboradores organizam reuniões com aliados fora da Venezuela. Numa reportagem do jornal The New York Times, foi informado sobre a recente apresentação em Nova York de uma proposta para investidores americanos. De acordo com a reportagem, nesse evento a líder opositora assegurou , através de um vídeo, que a Venezuela oferece, num período de 15 anos, uma riqueza estimada por ela em US$ 1,7 trilhão.
POLÍTICA
Ratinho Júnior diz que Paraná não aceitará decreto de Lula sobre educação especial
O Decreto nº 12.686/2025, que cria a Política Nacional de Educação Especial Inclusiva, gerou conflito entre o governo federal e o Paraná. A norma determina que estudantes com deficiência sejam matriculados em escolas regulares, com atendimento especializado apenas no contraturno, o que reduz o papel de instituições como as Apaes.
O governador Ratinho Junior rejeitou a medida, afirmando que o estado continuará defendendo as Apaes, que recebem alto investimento estadual. A reação reflete a insatisfação de entidades que criticam o governo federal por impor um modelo único de ensino sem diálogo com os estados e instituições especializadas.
O vice-presidente da Feapaes-PR, Werther Fontes da Silva, afirmou que o decreto do governo Lula surpreendeu as instituições e retira das famílias o direito de escolher onde matricular seus filhos com deficiência, ao eliminar o termo “preferencialmente” da legislação. As Apaes atendem milhares de alunos com deficiência intelectual, múltipla ou autismo, oferecendo apoio pedagógico e terapêutico. Werther classificou o decreto como “cruel e malfadado”, considerando-o um retrocesso que ameaça um modelo de referência nacional. Ele destacou ainda que há duas propostas de decreto legislativo no Congresso, uma no Senado e outra na Câmara, que buscam suspender a norma federal.
A Secretaria da Educação do Paraná (Seed) manifestou-se contra o decreto federal sobre educação especial. Segundo Maíra de Oliveira, chefe do Departamento de Educação Inclusiva, a norma ignora a complexidade da educação especial e impõe um modelo único sem considerar alunos com deficiências múltiplas ou necessidades intensivas de apoio. Ela destacou que o Paraná não foi consultado e defendeu um sistema inclusivo que ofereça diferentes formas de escolarização, com escolas regulares e especializadas atuando de forma complementar. O governo estadual reafirmou o apoio às Apaes, que recebem mais de R$ 500 milhões por ano e estão ampliando sua rede com novas unidades e equipes multiprofissionais.
Em nota oficial, o MEC defendeu que a nova Política Nacional de Educação Especial Inclusiva garante o direito à educação para todos os estudantes com deficiência, promovendo igualdade de oportunidades. O governo afirma que o decreto está em conformidade com a Constituição, a LDB e a LBI, e tem como objetivo fortalecer a inclusão em escolas regulares, mantendo o atendimento especializado como complemento. O ministério também declarou que a medida combate o capacitismo e promoverá diálogo com estados e municípios na regulamentação. Apesar disso, Apaes e federações em todo o país seguem criticando o texto e pedindo sua suspensão, enquanto parlamentares articulam no Congresso ações para barrar o decreto.
A controvérsia sobre o Decreto nº 12.686 revelou o embate entre quem defende a inclusão de alunos com deficiência apenas em escolas regulares e quem valoriza o papel das instituições especializadas. No Paraná, o governo adota um modelo que combina os dois sistemas, considerado mais equilibrado e eficaz. Werther Fontes destacou que a inclusão no estado respeita o ritmo de cada aluno, enquanto o governador Ratinho Junior afirmou que o decreto “vai na contramão do que funciona”. O tema agora deve ser discutido no Congresso e no STF, enquanto o Paraná reafirma seu compromisso com as Apaes, apontadas como um modelo de sucesso na educação especial.
POLÍTICA
“Não há país forte quando o crime organizado está governando”, diz Tarcísio de Freitas
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), defendeu, mais uma vez, a criação de um projeto de lei para classificar o crime organizado como terrorismo. Segundo ele, a medida é necessária para fortalecer o combate às facções no país.
“Não vai haver país forte quando o crime organizado está governando. E aí, mudanças na legislação são fundamentais […] para que a gente possa endurecer penas e aumentar o custo do crime”, afirmou Tarcísio, que ressalto ainda que “o que o PCC fez em São Paulo, em 2006, é terrorismo”, em referência à onda de ataques promovida pela facção naquele ano.
As falas aconteceram durante participação de Tarcísio de Freitas, por chamada de vídeo, em uma reunião de governadores de direita, nesta quinta-feira (30). Participaram Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, além de Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal.
O encontro foi organizado na esteira da megaoperação contra alvos do Comando Vermelho, que matou 121 pessoas no Rio de Janeiro na terça-feira (28). A atuação das autoridades fluminenses foi elogiada pelo governador paulista, que lamentou a morte de policiais envolvidos e colocou os agentes de São Paulo à “completa disposição” do Rio.
Tarcísio de Freitas aproveitou a reunião para exaltar ações da própria gestão. O governador paulista citou exemplos do que definiu como avanços na segurança pública de São Paulo, como o enfrentamento da Cracolândia, do crime organizado no setor de transportes e combustíveis, e lavagem de dinheiros nas fintechs, lojas de brinquedos, entre outros.
POLÍTICA
Picape usada para transportar corpos de traficantes do CV era roubada
Policiais civis da 22ª Delegacia de Polícia (Penha) identificaram a picape de luxo utilizada para transportar os corpos de moradores e de faccionados do Comando Vermelho (CV) mortos durante a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, nessa terça-feira (28/10).
Segundo a corporação, o carro havia sido roubado em 17 de setembro, por volta das 14h30.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado na 25ª DP (Engenho Novo), o motorista relatou que dirigia pela Rua 24 de Maio, no sentido Méier, quando dois jovens em uma moto CG 125 preta aproveitaram o sinal vermelho para bloquear seu caminho.
O garupa, armado, bateu no vidro e exigiu que o condutor saísse do veículo, ameaçando-o verbalmente e apontando a arma contra sua testa, dizendo que ele seria morto e insinuando que seria policial.
A polícia, porém, suspeita que o assaltante seja Rodrigo Correia Martins da Piedade (foto abaixo), o “Loirinho do CV”, apontado como um dos traficantes da facção especializados em roubo de carros.
Após o motorista sair da caminhonete, ambos os criminosos fugiram pela esquerda, via Rua Marechal Rondon, levando o veículo e diversos pertences da vítima, como um celular Samsung S24 Ultra e a carteira com cartões de crédito.
O caso agora integra as investigações sobre a megaoperação mais letal da história do Rio.
-
POLÍTICA7 meses atrás
“Tomar o celular bruscamente da mão da vítima não configura o crime de roubo”, diz Ministro Antônio Saldanha do STJ
-
BRASIL8 meses atrás
“Se para viver de arte, você precisa de subsídio do Estado, você não é um artista, você é um funcionário público.” Diz Javier Milei
-
POLÍTICA4 meses atrás
Lula estuda limitar remessa de dividendos de empresas americanas com operação no Brasil
-
POLÍTICA6 meses atrás
Deputado do Parlamento Europeu propõe sanção a Moraes após intimação contra Bolsonaro
-
POLÍTICA3 meses atrás
Trump ordena que visto de Eduardo Bolsonaro e toda sua família seja mudado de temporário para permanente
-
POLÍTICA3 meses atrás
EUA investigam esposa de Moraes por influência do ministro do STF
-
POLÍTICA2 meses atrás
Filha de ministro do STF é xingada e leva cusparada em universidade
-
POLÍTICA4 meses atrás
Advogados dizem que medidas contra Bolsonaro são “inéditas no direito brasileiro”
